controvérsias

"A cada mil lágrimas sai um milagre”

Alice Ruiz

terça-feira, 18 de novembro de 2008

A tristeza de Alice

Você não responde. Fui trocada por outro ouvido talvez mais apurado, talvez mais irritante, talvez mais elegante. Talvez de olhos e carne. Quase soluço. Quase desisto. Quando ouvi que partes são queridas e partes não, me senti num açougue. Pendurada em esquartejamento. "Aquilo eu gosto, ah, aquela parte ali, não, não gosto. Aquela outra, mais ou menos." E assim, partes minhas são empacotadas e levadas para casa. As outras, rejeitadas, se mantém penduradas a espera de alguém que goste, ou! de alguém que acha que não merece levar um pedaço meu melhor.
Quando você não gosta, silencia. e me dá medo. E ouvi de outro você que "quando dá medo, já era." Mas medo tenho sempre, bem... já era. E nunca vai de verdade, porque toca naquele pedaço do coração que é puro amor. Um coração que foi levado inteiro, mas comido aos pedaços. Devorado nobre sobre a mesa em um picadinho sem molho.
Você não espera. Não dorme. Tem um oco em seu coração que é uma dor que pesa muito. Faz você se encurvar sobre a tela. E eu choro. Porque conheço os ocos, conheço os pesos, e claro, nunca sei as medidas certas. Você mente quando diz que diz a verdade. Você não conhece a verdade. E, quiçá (adoro essa palavra. Quiçá. Soa bem, soa kissá, soa a relatividade atenta de mim), e quiçá, alguém conheça talvez algo parecido com uma verdade. Afinal de contas, a própria palavra tem plural. Porque verdade tem plural. Verdades. Diz ainda de longe mais um de todos os vocês que "quem diz que a verdade é um pacotinho embrulhado pra presente?" Porque não todas, muitas, várias, algumas, possibilidades? Verdade aberta. Cheia de frestas por onde entra a água cantarolando de sua voz molhada. De seu rosto marcado de vida. De seus olhos salgados.
Você não. Não deixa, não ouve, não ama, não mata, não cutuca, não responde.
Eu sei. É só pra mim. Que é assim.