controvérsias

"A cada mil lágrimas sai um milagre”

Alice Ruiz

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Pena Plena (2006)

Um dia de chove, não chove. Aquele torpor que espreguiça. Uma mensagem de fumaça atravessa os galhos. Um dia de vento fino, quase insentido, quase branco. Fico sentindo o formigamento da pausa. Não sei se quer movimento ou silêncio. Gosto de deitar nas pedras, sinto a certeza de que não vão sair dali. Como eu saio flutuando, sem sentir corpo, nem mente, nem pele. Adoro ver o mundo em cores e relvas amarelas. As portas abertas, as passagens de vento, sopro que me leva até o cume, pensamento insolente e azul. Quando sinto ausência, sinto branco. Cega de luz. O olho fechado vibra o dia em laranjas e roxos. Vazio que promete algum nascimento. Passeio por um mundo sem peso e sem pés. Minha culpa é azul. E o amor, rosa. Dei de presente à natureza que me acolheu sem perguntas. Penso que sinto que estou caindo. Sinto que penso feito folha, palavra desgarrada, som que desgarra da boca e cai. O pensamento desgarra da mente e sai planando, livre, livre. Quase cai quando um golpe de vento pega no colo uma idéia que vai crescendo, crescendo e se espatifa no portão. Uma pena desgarra do corpo da coruja. Adormeço dentro da pena verde, voando na palma leve, plena de sonhos sem sol.