controvérsias

"A cada mil lágrimas sai um milagre”

Alice Ruiz

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Nova vidinha

Não é nada disso.

Mas nasceu a tão esperada menina aqui na Fazenda. E como é de praxe, cada ano corresponde a uma letra e esse ano o nome dela deve começar com a letra T. Sua mãezona se chama Alegria, e é mãezona mesmo.
Tá difícil de arrumar um nome feminino com a letra T.

Tô pedindo ajuda a vocês. Já surgiu Tainá, Tainan, Tula, Tigresa, até Tradição e Talita. Mas nenhum deles convenceu. 
Alguma ideia melhor?


quarta-feira, 12 de outubro de 2011

da dó
esse sol
carente de fá,
briga com bemol,
cai em ré
maior

da dó
esse sol
em pleno acorde,
ajuda a harmonia,
vira em sol
menor

domingo, 11 de setembro de 2011

manoel ricardo de lima
do livro
quando todos os acidentes acontecem

várias coisas se movem
entre os pequenos sinais
saltados do canto esquerdo
da boca. uma é a pele,
a profundidade da pele, este
desenho entre dois pontos, este
aviso do corpo. este lugar, a
distância, esta distância que
é deles enquanto se
mexem no canto –
uma mordida de cobra verde
rachando a superfície –
e quando aproximou, um
diz que diz sem terminar no
meio de uma conversa sem
fim, caíam leves e pesados
dois fios brancos da gola, e
puxar por ali, insistir sozinho que
o mais profundo é a pele, o mais
profundo é a pele, o mais profundo
é a pele. estes olhos fixos 

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Quero soltar meus diabinhos numa sopa de letrinhas



Uma pitada de grito, de cócegas, de olhar desconfiado. Refogo em separado alhos e bugalhos, misturando o cu com as calças. Nada satisfeita, acrescento molho de mágoa, mas com muito perdão. Algum veneno antimonotonia sempre cai bem. A mostarda negra em doses homeopáticas; a língua afiada, fatiada. Uma dose cavalar de certo, regada com o errado, sem ponto de equilíbrio.  Faço da saudade um picadinho com molho. Da vontade tiro o sumo, temperando o dia.  Braçadas de sorte e caldeirão de palha. 
Fogo brando, muito brando, até que o amor fique cego. 

terça-feira, 3 de maio de 2011

inlucidez

Engula essa. Aceite você como você é. Você pode mudar, se quiser. Amar é, ser amigo é, viver é...

Quando assisto filmes - onde vidas são bem mais previsíveis que na vida - é o suficiente para entender o tamanho da diversidade das existências... Quanto somos mesmo em população?

Todas as razões, os sentidos sem sentido. Buscar um sentido de viver é tão non sense quanto a morte "festejada" de Bin Laden.

E onde moro agora é um balde de razões. Até uma bandeira tem o lado certo. Acho que se mostrasse um quadrado, alguém ia brigar pra ter razão que um dos lados é o certo.

Lembro que quando tinha uns 18 anos aprendi a fazer torta de cebola. Fiz uma, levei duas horas, foi devorada em 15min. Nunca mais fiz. Achei que não valia a pena. Corri feito uma maluca para fazer com brilho a Cavalgada da Fé. Corri duas semanas para me sentir bem durante uma meia hora. Ainda não me recuperei da cavalgada exagerada em relação a minha condição física.

O resultado é esse post reclamão.

Se nada faz sentido, se viver é apenas viver, assim como o perfume que é flor, então... até a fala qualquer fica devendo saúde.

É.

Um suco de limão, duas fatias de pão e um sopro no nariz.

Boa noite. Escolhi que seria essa, uma noite profunda sem sonhos.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Beta Timm

"Que o cara lá de cima te receba de braços abertos", citou minha mãe de um anúncio de falecimento no jornal. E foi assim que soube, querida Beta, da sua passagem. Pleno carnaval. Dia da mulher. "Essa é a Beta que conheci.", pensei logo. E o túnel do tempo me levou para longos passeios de fusca até o Guaíba, histórias revolucionárias, senso de justiça aguçado, histórias de amor, sonhos, busca de conhecimento, busca de si, e um grupo de alunos que tb buscavam. Alguma coisa que não era nada e nem perto do que a faculdade oferecia. E vc nos redimiu. Abriu um céu de possibilidades muito além. Não só tive o privilégio de conviver com vc, com sua grandeza, como posso afirmar que vc me fez. Um bom pedaço meu foi descoberto por vc, e um bom pedaço meu leva a sua influência. No coração, principalmente.  E me deixava livre. E me empurrava para ser livre. E me chutava para que eu fosse atrás do que queria.
E é uma montanha de gente que vc deixou uma marca. Feita de paixão e muito amor.
Obrigada, Beta, por tudo.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Surreal

Estou no meu silêncio, amortizada pelo som da minha janela. Pasmo, sempre. É. Hoje parei na frente de alguns e-mails de feliz natal, desejos de ano novo feliz e com saúde, essas coisas. Acariciando minha gata, bateu forte um cheiro de maresia tão, mas tão longe. Travei na saudade. Não consegui escrever uma linha sequer aos meus amigos queridos. Estiveram aqui, fizeram maior festa, fiz tirolesa, alguém perdeu um par de tênis (juro que não está aqui), e até agora não respondi: as fotos, os comentários, as risadas. Não me compreendo. A tristeza de agora, nesse momento segundo, travo. Sento para trás, na cadeira que a Sânia me deu, cruzo os braços e olho a tela do monitor como uma paisagem. De cheiros, motores, Ernestos e capatazes. O Ernesto morreu. De solidão. Achando que era cachorro, longe da vaca que o amamentou, esse borrego guacho foi rejeitado pelas outras ovelhas. A gente empurrava ele para dentro do galpãozinho delas e ele se encolhia num canto. Elas olhavam aquele ser estranho, igual a elas, mas diferente. Desistimos. Ficou pastando num potreiro dele. Parou de pastar. Nem a ração pra cavalo que ele tanto gostava, comia mais. Deitou na frente da porta dos fundos por onde as crianças pulavam por cima dele quando voltavam da escola. Achamos ele assim, deitadinho, de olhos abertos, esperando as crianças que não estavam mais lá. Nosso capataz enterrou ele no meio da mata. Achou uma pena que não poderíamos fazer um churrasquinho dele. Pensamento simples e direto: “Amanhã ou depois a ovelha fica doente e cai mortinha. Eu não tenho pena de matar, aí pelo menos a gente come.” Argumento bom para carnívoros que nem eu. Cláudio tem suas máximas e dirige a vida campeira pelo cheiro: “Cheiro forte, bugio por perto; cheiro doce, é tatu.”Essa vida campeira é de uma praticidade que corre muito longe de minhas veias. Admiro, até venero, a paisagem surrealista de minha janela amanhecida.

O afeto dos cavalos é de uma intensidade ímpar, a gente se sente amado por eles. Sempre atrás de uma boa ração ou um punhado de alfafa. Uma amiga muito querida quis fazer amizade com nosso potro Ravi, de um aninho. Ele deu as costas para ela, depois de cumprimentá-la. Voltou ao seu fazer mais sagrado: pastar. Falei que a gente chegava perto muito fácil com um baldinho de ração no que ela me retruca: “Esse tipo de relação não me interessa.” Aí, fica difícil. Bicho é rango. Ué, o bicho tem a natureza de rangar o dia inteiro, o tempo todo, inclusive à noite, o cara só pensa nisso. E depois, a gente faz a mesma coisa, porém inserido em regras sociais bem complexas. Quando quero fazer amizade com alguém, convido para um almoço, um café, um chimarrão. Quando quero um encontro, convido para jantar. É rango, símbolo básico de qualquer sobrevivência. Não existe amor que faça mover essa máquina chamada corpo, se não tiver arroz (esse trocadilho horrível, nem o Chico inventaria).