controvérsias

"A cada mil lágrimas sai um milagre”

Alice Ruiz

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Gupimpa no seu dia a dia

É ver o tempo de manhã, a hora na tarde e cuidar das estrelas à noite, para que não caiam no meu prato cheio de açúcar, nem voem tão longe a ponto de não mais tê-las, soltas na nuvem carregada de não amanhãs. Não gosto de luz, mas vivo de luzes, todas coloridas, pedrinhas de praia, conchinha de lua cheia e uma saudade de doer. A saudade aquela que mata do quase existencial. Pára-quedas de sono, vertigem de longe, tesão passa feito cometa, gozando no mar. Assisto a Iara brindando de espuma, champanhe de sal. Brindo no espírito, salto no lodo, afago uma onda, surfo no peito, rasante de jazz. É hora. Quebro, conserto, desarrumo. Cama, casa, água, detrito, dejeto, ensejo, desejo. Vasto mundo de Raimundo sem solução. E se isso parece pouco, e se parecemos tantos, somos nada, equivalentes a uma natureza morta. Mortos de medo. Atolados, atropelados. A civilização me venceu. Matou meu brilho atemporal e acrístico. Fechou a sola dos pés com propaganda enganosa. Ofereceu uma mão em troca de tudo que é. Não quis. Não é mais era de enforcamento, estamos na era da fritura. Você vai sentindo o calorzinho e não tem outro jeito. Vai pro mato. Pro mar, pra esquina nua. Vou pra Lua, pra Hercólobos, namoro a bruma. Vivo de saudade e de sonho. Morrer de saudade é covardia, já dizia Pina Bausch. Se você sabe o que fazer, me conta. Arruma uma conta que não seja a da padaria. Fala no convés, ao pé do ouvido, se existe sentido. Me dá a mão, se não tiver vergonha. E se tiver, dá a mão igual, enrubescendo. Coro contigo e corro contigo, sumindo na vastidão da caverna de Platão. Ui. Não. Pasárgada é meu paraíso preferido. É. Dizem que a vida é bela. É, dizem que o ser humano é um assombro. Parece que finalmente se deram conta de que não só a sua cabecinha conta. E ferveram de ardor e rumor, de cachoeira e frio, de dor no calo a dor de dente, sabendo, que não tem semente, capaz de vingar na beira desse rio, vida no fio. O equilibrista, finalmente, caiu.