controvérsias

"A cada mil lágrimas sai um milagre”

Alice Ruiz

domingo, 22 de fevereiro de 2009

Caminhos

Eu tô falando daquele momento. Das decisões que a gente toma na vida, do que provoca e define. Aquele exato instante em que, acumulada a informação e processando os prós e contras consciente e inconscientemente, um ponto de exclamação surge acima da cabeça e um estalo grita por dentro:
- É isso!
Lembro de uma amiga que decidiu se casar no instante em que abriu pela primeira vez o porta-malas do carro do namorado:
- Chris, quando eu vi aquela bagunça, percebi que ele não era tão certinho assim.
Somado ao inacreditável que é a vida, lembrei de duas gotinhas d'água que mudaram meu rumo.
A primeira foi em uma visita a um hospital psiquiátrico, onde uma paciente me procurou hospital afora durante meia hora apenas para me devolver um sonoro "Bom dia!". Durante a frase, a exclamação e a alegria da mulher, abandonei o curso de psicologia.
A segunda decisão foi uma meia foto que fiz. Última foto do filme. Meio negativo apenas. A foto que está publicada aí em cima. Era meu segundo rolo de filme levado a sério, ainda estudante de jornalismo. Da vitrine de uma loja no centro de Curitiba. Ainda hoje, quando passo em frente a essa loja, me emociono. Definiu - o que só agora posso compreender plenamente - toda uma linha de trabalho que continuo desenvolvendo. Foi A descoberta. De uma estética, de uma visão de mundo, de uma fotógrafa. E que muda a cada dia ao mesmo tempo que aprofunda o já exercitado e testado.
O novo que é fruto de um caminho e que encontramos na raiz ao mesmo tempo.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Quem cala

nem sempre consente

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Clarice

O tempo não passa, são brancas as horas do meu pensamento. De nada entendo, de tudo sou espectadora voraz, sentada no tronco do espaço vazio, balançando as pernas do balanço de sonhar.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Lilás, a sobrevivente, precisa de uma nova casa

Há algum tempo atrás contei aqui a história de 7 cachorrinhos recém nascidos e abandonados perto de meu jardim. É. Sobreviveu uma. A pequena Lilás, também conhecida como Pitchulinha, respondeu ao nosso anseio e vingou. Vou contar pra vocês que foi muito triste ver os cachorrinhos morrendo um a um. Nossa... A historinha deles vocês podem ver no post Os bacuris da árvore. Quando os encontramos há 5 semanas, todos pretinhos, era difícil ver a diferença e saber quem já mamou e quem ainda não. Com exceção do Dif (erente). Assim, Helen e Prakash colocaram fitinhas coloridas em cada um. Por isso nossa menina se chama Lilás. Resistiu bravamente à doença que matou os outros, à bicheira que já veio junto no buraquinho do umbiguinho e a quantidade excessiva de vermes que provocavam convulsões, cólicas, tremedeiras e babas. Ela é uma sobrevivente. A sobrevivente. Ainda penso o que é essa coisa que faz com que os bichinhos, sem noção de nada ainda, tenham tanta vontade de viver. "É o instinto", respondem todos sempre que menciono essa admiração, esse mistério, esse impulso vital que vem sei lá eu da onde. O nome disso não me explica nada. Só sei que razão de viver a gente até escolhe, identifica, pensa, repensa... mas na hora que o perigo chega de verdade, nem penso em nada, faço de um tudo pra continuar viva. Passa longe da minha cabeça "pensante" o sentido da vida. Mas chega de tergiversações. A hora tá chegando. Lilás precisa de uma nova casa e de alguém que queira criá-la com toda a atenção, porque, como diz a Helen, ela vai ser muito apegada aos seres humanos. Afinal de contas, tem duas "mães" mulheres. . .


quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Mais uma de Gupimpa

Eu não sou de fazer. Não faço. Não sei fazer. Sou de outro tecido. Meu tecido é de sonho e devaneio. Do prazer diário e fugaz. Dos ovos e sopas, bifes e tomates. Sonhar é meu reino, minha vida foi toda tecida de sonho. Nunca de fatos. Tem gente que é assim. Que nem eu. Que só sonha, não realiza. Que vive assim, assistindo luas e baleias, imaginando novelas e romances, deitando na areia e sentindo o vermelho do sol. Precisa mais? Parece que sim. Parece que até eu preciso mais. Tola ilusão. E não gosto de me iludir. O que realmente gosto, é de sonhar. E o sonho é muito diferente da ilusão. Porque a ilusão vislumbra um acontecimento. O sonho não promete nada. Ele é sua própria realidade, feita na sua dimensão e no seu tempo.
Alguém pode me dizer... porque não? E porque a vida não é assim? Não pode ser desse jeito? Pode, morrendo de devaneio, mas pode. Chega. Volto a sonhar.
E fodam-se os produtivos orgulhosos de sua ganância. E nunca, mas nunca mais, reclamem para mim sua falta de tempo.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Nina Violina (2005)

Conheci Nina num concerto solo de melancolia e devaneio. Em um tempo mais escuro, na década de 70, quando homossexualidade, além de palavra chula, não existia nos dicionários escolares. Num bar de fumaças e piano solitário, Nina confessa sussurrando:

“Sempre fui uma menina violina. Adorava John Wayne, futebol, enforcava minhas bonecas dadas por parentes que não conheciam minha devoção por revólveres e capas de super-heróis. Cresci assim, a compor cidades imaginárias e mundos com meus legos.
Mas assim que tudo cresce mais, cresci mais também.
Na escola, não compreendia minhas colegas descobrindo batons, roupas e acessórios, enquanto comentavam festinhas e garotos.
Eu descobri Violina. Meu violino. Uma companheira de fantasias, cor de mel, quatro cordas e infindáveis melodias. No início, dissonante como minha vida. Logo depois, fascinante em notas que me davam os sonhos mais distantes do mundo de meninas e meninos. Lançava música em um espaço infinito de onde brotava, conforme o ritmo, novas vidas.
Assim se tornaram meus dias, a sonhar com aventuras, a viajar pelo mundo com minhas cordas sonantes e notas polifônicas em momentos de harmonia, de vagar, de poesia. Tinha uma imaginação que me afastava das festinhas, que me mantinha viva na solitude desejada. O som de Violina me transformava na heroína de capa e espada, a dormir embaixo de árvores, voar junto com estrelas, caminhar sobre a Via Láctea, plantando flores luminosas em nasceres de sol e mil luas.
Meu mundo antes de conhecer. Ela.
A menina mais linda que já vira. Tinha cabelos pretos imprecisos, longos, escorridos. Olhos escuros a deixar a sala inquieta de tanta meninice indecisa: se desejava ou se corria.
Mas algo era dela que não sabia, mas adivinhava. Por algum momento, em algum instante, me vi apaixonada. Passei a desejar e a sonhar aquela menina. Ao mesmo tempo, intuía, tinha um proibido. Um instinto que reconhecia um amor impossível para todo sempre. Em amores impossíveis, sempre. E eu sofria. Sofria nunca quieta. Sofria Violina. Saía rodopiando valsas. Não eram mais aventuras que imaginava, sonhava em dançar com ela.
Fui ficando assim, interditada da vida. Porque ninguém sabia. Cresci errada, aberração que em mim nascia como puro sentimento. O impossível machucava, só não fez parar de sonhar com ela, fazendo amor entre minhas flores na Via láctea ao som de Violina. Casei tantas vezes, tive filhos, fui pai.
Neste mundo eu não cabia, mas era inteira no mundo de Violina. Sempre a tiracolo, pronta a atacar um universo de silêncio, na dor da diferença proibida. Eis que um dia luminoso, aparece uma menina que me vê e pergunta se gosto de meninas. Olhei extasiada, meu segredo prestes a ser revelado, coração aos pulos, saquei Violina assustada, mas antes, explodi:

- Então eu não sou a única?”

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Gupimpa no seu dia a dia

É ver o tempo de manhã, a hora na tarde e cuidar das estrelas à noite, para que não caiam no meu prato cheio de açúcar, nem voem tão longe a ponto de não mais tê-las, soltas na nuvem carregada de não amanhãs. Não gosto de luz, mas vivo de luzes, todas coloridas, pedrinhas de praia, conchinha de lua cheia e uma saudade de doer. A saudade aquela que mata do quase existencial. Pára-quedas de sono, vertigem de longe, tesão passa feito cometa, gozando no mar. Assisto a Iara brindando de espuma, champanhe de sal. Brindo no espírito, salto no lodo, afago uma onda, surfo no peito, rasante de jazz. É hora. Quebro, conserto, desarrumo. Cama, casa, água, detrito, dejeto, ensejo, desejo. Vasto mundo de Raimundo sem solução. E se isso parece pouco, e se parecemos tantos, somos nada, equivalentes a uma natureza morta. Mortos de medo. Atolados, atropelados. A civilização me venceu. Matou meu brilho atemporal e acrístico. Fechou a sola dos pés com propaganda enganosa. Ofereceu uma mão em troca de tudo que é. Não quis. Não é mais era de enforcamento, estamos na era da fritura. Você vai sentindo o calorzinho e não tem outro jeito. Vai pro mato. Pro mar, pra esquina nua. Vou pra Lua, pra Hercólobos, namoro a bruma. Vivo de saudade e de sonho. Morrer de saudade é covardia, já dizia Pina Bausch. Se você sabe o que fazer, me conta. Arruma uma conta que não seja a da padaria. Fala no convés, ao pé do ouvido, se existe sentido. Me dá a mão, se não tiver vergonha. E se tiver, dá a mão igual, enrubescendo. Coro contigo e corro contigo, sumindo na vastidão da caverna de Platão. Ui. Não. Pasárgada é meu paraíso preferido. É. Dizem que a vida é bela. É, dizem que o ser humano é um assombro. Parece que finalmente se deram conta de que não só a sua cabecinha conta. E ferveram de ardor e rumor, de cachoeira e frio, de dor no calo a dor de dente, sabendo, que não tem semente, capaz de vingar na beira desse rio, vida no fio. O equilibrista, finalmente, caiu.