controvérsias

"A cada mil lágrimas sai um milagre”

Alice Ruiz

segunda-feira, 30 de março de 2009

quinta-feira, 26 de março de 2009

Piratas Fake

Flávio sempre desejou uma companheira cúmplice, com afinidades, com desejo de crescer. E era extremamente exigente ao escolher uma namorada. Essa exigência é aquela, que não passa pela razão, mas pelo coração que releva todos os sinais de que aquela pessoa não é o que a razão queria, mas... era ela. A Raquel. O seu sonho encantado.
Apaixonaram-se perdidamente, mas pouco se encontravam. Flávio, as voltas com suas indecisões, sua tendência artística conflitando com a praticidade do dia a dia, dividia sua atenção entre os amigos roqueiros e maltrapilhos e a atenção dada a Raquel: apenas MPB suave e um cuidado pisando em ovos. Tudo tranquilo, Flávio tinha tudo isso dentro dele. Mas, aos poucos, com a relação crescendo, Flávio já não convidava mais os amigos porque Raquel estava sempre com dor de cabeça, não se sentindo bem, tinha planos futuros que não davam resultado, tinha ambições e nela não cabiam os amigos de Flávio com costumes amorais.
Ele, dedicado, procurava entender tantos humores tristes, procurava com afinco mostrar a ela toda a alegria de viver que ele tinha. Buscava caminhos de harmonia entre os dois, planejava eventos de beleza simples – banhos de lagoa, jantares a luz de velas – mas Raquel, embora receptiva aos seus carinhos, não mudava seu humor pesado. Com a intimidade, passou a ter ataques de raiva, se sentia desrespeitada por qualquer brincadeira que Flávio, em vão, tentava dar uma quebrada nas conversas tão sérias, no que Raquel, furiosa, revidava fechando a cara. Quanto mais Flávio se esforçava, mais Raquel se encolhia, a cara brava.
Decidiram morar juntos. Flávio pensou: “Agora sim, tudo vai ser diferente, seremos felizes na nossa casa.” E a mudança ocorreu cheia de atropelos, a vida material pedindo urgência, a grana curta, mas estavam lá, juntos. E Raquel, contrariada, não dormia mais com ele, se fechava em copas, não o beijava, mal falava.
Flávio não aguentou mais. Resolveu que era hora de colocar os pingos nos is e dizer o que sentia. E disse. Despejou sobre Raquel seus desejos contidos, suas impressões, a falta de amor dela para com ele, toda a sua frustração. Raquel olhou estupefata: “Flávio, desde que cheguei você só tem me agredido, eu estou tendo a maior paciência com você.”
Flávio surtou ao ouvir a Raquel reclamando dele. Começou a chorar sem parar, gritava e esperneava a incompreensão de Raquel que, a partir desse instante, virou a companheira que Flávio tanto desejava. Amorosa, compreensiva, ficou ao lado dele durante sua crise que durou dois dias. Fez tudo para aliviar o sofrimento de Flávio – sexo, inclusive – e toda sua atenção estava voltada para ele.
Flávio, cheio de remorsos, sentiu-se muito mal. Sentiu-se doente, acabado, neurótico, a beira da histeria. Percebeu, tristemente, que era ele o mal da relação. Que era ele que fazia com que tudo desse errado. Raquel, por sua vez, só o estimulava a aprofundar seu novo conhecimento sobre si mesmo. E tomou as rédeas da situação, enquanto Flávio transformava-se num triste sonhador decepcionado. Ele era o erro de tudo.
Flávio já não faz mais jantares à luz de velas, não sorri mais com espontaneidade, não brinca mais. Não ouve mais rock e não se encontra mais com ninguém.
Finalmente, ele era só, somente dela, da Raquel, que faz tudo por ele.

Restauro

Antes...
e depois:

terça-feira, 24 de março de 2009

Marina Porteclis

RECADO AOS DESERTOS

Eu não quero estar no ângulo destas pessoas que nos olham de lado
Eu não quero caber numa foto três por quatro
Não quero o celular da moda
Não quero ter o verso vazio de história
Não quero esta vida blindada
Que já nasce morta

Eu não quero trocar os pronomes numa conversa de mesa
Eu não quero mentir sobre o que me faz inteira
Não quero terminar meu dia vendo a novela das oito
Não quero inventar um noivo
Para compor o teatro que ensaiam à minha volta
Cada um por si e Deus por fora de todos

Eu quero erguer a vista e olhar os hipócritas de frente
Eu quero sangrar todas as molduras pungentes
E quem quiser que diga que ando fora da moda
E quem quiser que critique meu verso e minhas histórias
Minha resposta é andar de peito aberto
E se ele for alvo, que seja certo
E que sucumba ao tiro batendo
Pois antes morrer inteiro que deserto.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Tempo da ré

Repetindo, resumindo, recomeçando, refletindo, respeitando, renovando, reconstruindo, redimindo, reparando, redescobrindo, restringindo, reprimindo, redefinindo, repensando, redobrando, repercutindo, refazendo, reabrindo, renegociando, requerendo, restando, realidade, ressuscito.
Ré confessa.

sábado, 14 de março de 2009

Mais Clarice

Tem dias que é assim. Parece que algo novo vai acontecer. E é pela barriga, que se contorce; pela Lua, que deixou de ser cheia. Um pouco pela saudade, de quê, não sei. Se soubesse, nenhuma novidade se daria.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Laurie Anderson

Uma compositora performer que fez muito sucesso nos anos 80 com seu violino elétrico, música minimalista e letras contundentes, aparentemente sem nexo. Mas só uma olhadinha levemente mais atenta e se descobre a profundidade de sua poesia. Saboreiem. Livres.

The Dream Before (do disco Strange Angels)
O sonho de antes

João e Maria estão vivos e bem
E vivem em Berlim
Ela é garçonete num bar
Ele fez uma ponta num filme de Fassbinder
E eles estão andando pela noite, tomando cachaça e gim
E ela diz: João, você me deprime
E ele diz: Maria, você consegue mesmo ser uma cadela
Ele diz: Eu desperdicei minha vida com nosso estúpido conto de fadas quando meu único e grande amor foi a bruxa malvada
Ela disse: O que é história?
E ele disse: História é um anjo levado de volta para o futuro
Ele disse: História é um monte de entulho
E o anjo quer voltar no tempo
Para reconstruir o que foi quebrado
Mas tem uma tempestade soprando do paraíso
E a tempestade sopra o anjo de volta para o futuro
E essa tempestade, essa tempestade se chama
Progresso

Born, Never Asked (do disco Big Science)

Nasce, nunca pergunte

Era um grande salão.
Cheio de gente.
De todo tipo.
E todos chegaram ao mesmo prédio mais ou menos na mesma hora.
E todos estavam livres.
E todos perguntavam a si mesmos a mesma questão:
O que tem atrás daquela cortina?

Você nasceu.
Logo, você está livre.
Então, feliz aniversário.

terça-feira, 10 de março de 2009

Estado de Espírito

segunda-feira, 2 de março de 2009

O que será que pensa um gato?

Ao sentar num pires...

ou dentro de uma cesta?