controvérsias

"A cada mil lágrimas sai um milagre”

Alice Ruiz

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Grito de Guerra

Querem me transformar em uma formiga mecânica. Gráficos de pizza! Perfeito para uma formiga.
Mas eu sei escrever!, grito esfolada.
E objeto direto dessas tarefas vou ao jardim pautado atrás de vermelhas interrogações e pimentas vírgulas. Tintas, alfabetos, lápis de samambaia.
Encontro só o ponto. E ele está por toda parte. Sufocante. Opressor.
Não tenho chance. Espero a noite para me esconder em meio às crases obscuras.
Roubo todas as pizzas, cujo queijo derretido aparece surpreendentemente em cada entrelinha ambígua e redundante, salpicado de tomate e orégano, enganando as estatísticas fatiadas enquanto toda parafernália sem poética emperra.
Minhas cigarras, não! grito de guerra.
E atiro reticências abrasadoras... Sou a cavaleira solitária a fazer o bem pelo mundo sem ponto e vírgula nem conta de luz. Apenas o queijo de gráficos roubados e uma caneta feita de parênteses.
Não com esses travessões inquietos em uma mente de Quixote sem Sancho Pança. Mas com outras letras que matem a fome de pontuação clara desse povo.
Transformada em matéria, talvez uma palavra possa realizar-se, uma sentença ter a graça de ser cumprida, o parágrafo ter a fama de compreensivo, e o texto - esse ser coletivo - finalmente, possível.