controvérsias

"A cada mil lágrimas sai um milagre”

Alice Ruiz

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Suspiro (2000)

Acredito em Zeus e sou fã de Vênus e Posseidon.
Acredito nas Ninfas e nas Cibeles, no oráculo de Apolo.
Acredito na Deusa Ísis, em Thor e sua turma.
Acredito na Grande Deusa, na Visão das Sacerdotisas e nos Druidas.
Acredito em Oxalá, Exu e sou devota de Iemanjá.
Acredito em Buda, em Tupã, na Iara dos rios.
Danço com Krishna, bebo ayahuasca, encontro meu animal de poder.
No Saci Pererê, na Mula-Sem-Cabeça e no Curupira,
eu acredito também.
Acredito em anjos, fadas, sereias, gnomos e duendes.
Na natureza que é, sem valores nem crenças.
No espírito da pedra, do fogo, da água e do ar.
Rezo o Pai Nosso e recebo o Okiomi.
Acredito no continente perdido de Atlântida e na sabedoria do povo Maia.
Acredito nos que moram nas Plêiades e na constelação de Orion.
E sou tudo isso pelo motivo mais simples: acho bonito demais.
Não sou humanista, sou pela vida, pelo direito pleno de viver de todos os seres: homens, animais, plantas, chuva limpa, rios e mar sem lixo.
Sou, antes de tudo, pela paz, pela poesia, de peito aberto, pelo profundo respeito a todas as diferenças.
Eis a largura do meu suspiro.

Ah, Francisquinho

Quando minha primeira sobrinha nasceu...

...foi tanta a nossa alegria. Meu irmão não se aguentava. Com sua mão gigante segurava a pequena Aninhari como um trofeuzinho delicado. Não parava de sorrir. Eu, estupefata com aquela coisinha minúscula que de tão embrulhada, só se via os cachos de cabelos pretos e fartos. Lembro que arrumei um buquê de rosas e saí distribuindo pelo hospital afora, compartilhando esse acontecimento que, por um bom tempo, fez nossa família esquecer ou deixar pra lá suas divergências e problemas.
Mas hoje, o dia em que você está fazendo 20 anos, a pequena loirinha encacheada Aninhari, é uma mulher alta, com sua beleza particular, com seu coração de ouro e sonhos de uma vida, e que me ensina, entre coisas ótimas, a ser tia. De Ana Rita chamo Anari, por causa do sorrisão amoroso, sempre presente. Sempre um presente.
A gente adivinhou, Anari, que você em nossas vidas seria, é e será tudo de bom. Obrigada.
Com amor, feliz aniversário
Tiagani

A Fada (ou sobre a plenitude do amor) 2005

Não que eu queira que me dirijam a palavra como louca, ou mesmo como lunática. Não, senhoras e senhores. Desejo antes de tudo contar uma história de amor. Que me transformou na mais plena de todas as criaturas. Essa história, senhoras, é um apelo e uma esperança a todos os corações sedentos. E creiam, senhores, o que conto agora é a mais pura verdade.
Estava na minha paz, matando a sede com uma água da Velha do Coco, no centrinho da Armação. Distraída pelo mar, súbitas cosquinhas me fizeram espirrar. Olhei para minhas roupas e logo reconheci o pó dourado jogado sobre mim. Senhoras e senhores, era o velho pó de pirlimpimpim. Virei na direção da mulher que o soprou.
Estudei a vida inteira seres encantados, mas não tinha visto unzinho até aquele dia. Ela, a Fada. Da minha altura, com suas orelhas pontiagudas, cabelos brancos, olhos cinza cintilantes e asas de borboletas azuis. Acenando discretamente para mim. Mantinha a prudente distância de 20 cm do chão, flutuava e dançava suavemente um convite a segui-la.
Senhoras e senhores, nenhuma surpresa eu senti. Pelo contrário, uma familiaridade e uma paz sonhada na alma deram rumo aos meus pés. Seu movimento elegante de princesa sonhadora e sorriso de menina me dominou.
Fui atrás desta Fada com calma e alegria singela pelas vielas da cidade, a observar seus ombros largos e mãos fortes. Vez por outra virava para trás, garantindo sua sedução pelo olhar. Nada podia fazer, senhoras, a não ser persegui-la delirante e enfeitiçada.
Sabia-me encantada, senhores, e meu olhar fixo temia perdê-la em alguma bruma desconhecida. Mas foi numa trilha mágica, entrando pela mata selvagem do Morro do Matadeiro, que me percebi radiante. Estava voltando para casa, era tudo que meu coração pedia.
A Fada, estonteante e delicada, finalmente parou. Sentou-se em um tronco milenar de um guarapuvu. Olhava sensível e amorosa à espera de minha aproximação. Magnetizada, senti ainda o perfume da flor dama da noite a anunciar os próximos momentos. Não quero deixar de surpreendê-los, senhoras e senhores, mas o que podia passar-se como óbvio, não o foi.
Minha Fada sublime, de beleza única, sussurrou com uma voz rouca e gravemente masculina meu nome. Tirou o vestido tímido e vi seus seios perfeitos. Com o olhar mais intenso ainda, deixou à mostra seu pênis lindo, pronto para o amor.
Desde esse dia nunca mais nos separamos, senhoras e senhores. Encontrara meu sonho de criança e adulta, o amor de minha eternidade, a alma que buscara incessante em uma forma majestosa, rica e delicada. Mas não se enganem, meus amigos, essa história não fala de corpos e matéria.

Fala de almas que contém o estranho invisível e que um dia, compreendidas e amadas, vão ser.