A alma chegou na frente, a galope.
Diante da imensa pedra, parou bruscamente e gritou:
- Quer ser minha casa?
A pedra imóvel, polida pelo tempo insondável, cuja energia presenciou milhares de histórias, indecisa quanto à pergunta inusitada, respondeu sonolenta e vaga:
- Não, por acaso você deseja ver tudo e permanecer calada, em sua jovem inquietude?
A alma ingênua surpreendeu-se com o desprendimento da velha pedra. Com calma, rodeou a pedra e encontrou uma caverna. E ali ficou.
Foi morada de visitantes noturnos, de animais fugindo da chuva, de namorados procurando abrigo. De uma semente trazida pelo amigo vento, tornou-se flor única dentro da caverna. Buscou-se em folhas, derramou-se em leito quente.
A pedra, aquecida pelas vidas que a alma atraía em seu útero antes vazio, sentiu, pela primeira vez, o amor dado e recebido de sua pequena amante alma.
E sentindo-se enganada soube. Sempre teve o que tanto observara em sua longa existência. Chorando pelo orvalho dos musgos, sentiu que também era uma alma.
controvérsias
"A cada mil lágrimas sai um milagre”
Alice Ruiz
sábado, 25 de outubro de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário