controvérsias

"A cada mil lágrimas sai um milagre”

Alice Ruiz

sábado, 25 de outubro de 2008

O Tempo e a Maçã (2005)

A alma chegou na frente, a galope.
Diante da imensa pedra, parou bruscamente e gritou:
- Quer ser minha casa?
A pedra imóvel, polida pelo tempo insondável, cuja energia presenciou milhares de histórias, indecisa quanto à pergunta inusitada, respondeu sonolenta e vaga:
- Não, por acaso você deseja ver tudo e permanecer calada, em sua jovem inquietude?
A alma ingênua surpreendeu-se com o desprendimento da velha pedra. Com calma, rodeou a pedra e encontrou uma caverna. E ali ficou.
Foi morada de visitantes noturnos, de animais fugindo da chuva, de namorados procurando abrigo. De uma semente trazida pelo amigo vento, tornou-se flor única dentro da caverna. Buscou-se em folhas, derramou-se em leito quente.
A pedra, aquecida pelas vidas que a alma atraía em seu útero antes vazio, sentiu, pela primeira vez, o amor dado e recebido de sua pequena amante alma.
E sentindo-se enganada soube. Sempre teve o que tanto observara em sua longa existência. Chorando pelo orvalho dos musgos, sentiu que também era uma alma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário